27 setembro, 2000

Crítica

Dedicado á pintura desde sempre começando por escrever poesia. De sua poesia nada conheço mas pelo que pinta deve escrever com um ritmo certo e cadenciado sem rimas exageradas. Suas obras de "dripping", são testemunho disso enquanto que as restantes também se situam no mesmo patamar embora com outro tipo de escrita, mais volumosa, sensual e movimentada.

No seu gotejar e ou pingar pelas telas deixa-nos uma sensação que não estamos habituados. Será que quer chocar o espectador?

Se é essa a pretensão, o autor consegue ser provocador e nalguns casos assustador para o espectador menos atento. Há necessidade de parar nesta fase do autor com pintura irrequieta, quente e gritante. É uma pintura mosculante visualmente com efeitos no espectador nas imagens por debaixo salpicadas.

Diz-se que a arte gestual é um estado intermédio numa tentativa de apontar a direção do futuro sem no entanto lá se chegar ou pintura "alcoólica" com figuras semi-abstratas como sendo uma linguagem de excelência. Bom… é muito controverso, mas estou ciente de que Ernesto Coelho, no seu gestualismo e sem adornos quer colocar suas imagens em segundo plano como se quisesse prende-las, transmitindo mensagens diversas do nosso quotidiano. O seu gotejar ou pingar nas telas é em movimentos diagonais, para contrariar o hermetismo do tema que coloca em segundo plano.

O que mais impressiona nesta fase do pintor, é a sua característica plástica, numa mensagem nos sonhos numa tentativa de descobrir o seu interior. Poderei estar a exagerar e entrar demais na intimidade do autor, mas este tipo de escrita polockeana, é mesmo isso. É uma intimidade numa redoma onde se respira um alívio interior.

Mas a intimidade de Ernesto Coelho, vai mais longe e nos seus trabalhos sobre papel que visitei em seu atelier virtual, é testemunho disso. Se esses trabalhos sobre papel são estudos, acho que estão completos como obra. Figuras que nos podem parecer provocantes, mas deixemo-nos de ser puritanos, são imagens do dia-a-dia. O autor é tão provocante que na sua obra "Saborear no teu corpo", nada tem de provocante nas personagens a não ser o poema escrito no próprio papel.

Se o poema é provocante, é num romantismo subtil para sobressair o desenho e o espectador perceber melhor o que é o erotismo na arte. Escreveu na diagonal para equilibrar as imagens aguadas em tons escuros e rosas.

Nas outras imagens que conheci, isolou-as como apontamentos de um quotidiano, vestidas com suas roupas íntimas ou as mãos escondendo o que de belo e criador têm.

Resumindo, encontro neste autor algo para ser admirado, quer numa fase ou noutra que se complementa e completa.

Ângelo Vaz
Crítico de Arte / Galerista